As abelhas para Mário Herrero

 

É o mel negro entre as rochas,

são os seres que nunca se veem,

aquelas que moram entre as pedras,

nos círculos irregulares,

que deixaram de ser.

É o urso entre as rochas,

é a raposa que nunca se vê.

É a minha vida entre os carvalhos do Monte da Vara,

entre as sombras do Abesedo de Donis,

no caminho do Miravales,

um licor na Cantina,

a senda que sobe até ao céu.

O branco impossível da neve,

a presença silente do lobo,

a tua forma de tropeçar com todas as pedras,

quase vinte anos a percorrer os caminhos,

e toda a vida para construir a memória

de cada pedra,

de cada árvore,

de cada pegada na neve,

de cada desejo de ser.

São os seres que nunca se veem,

é o mel negro que nunca comerei.